13 de setembro de 2015

O óbvio que ignoramos

O que têm em comum pessoas como Gisele Bündchen, Silvester Stallone ou Elizabeth Gilbert? “Por que razão algumas pessoas parecem ter nascido para a sorte e o sucesso?”

É sobre esse “segredo” que Jacob Pétry, jornalista e filósofo brasileiro, se debruça em O Óbvio que Ignoramos. Ao longo de dez capítulos, Pétry vai apontando exemplos e desvendando o que permitiu a personalidades tão diversas terem sucesso.

Um dos aspectos focados é o talento, a manifestação de um talento natural. No caso de Gisele Bündchen, não é a simples beleza: “o segredo que está por detrás de toda a beleza é a manifestação natural de um talento genuíno desenvolvido ao ponto de atingir praticamente os limites da perfeição”. Ela conseguia encarnar papéis e expressar emoções de forma genuína, tanto na passerelle como frente aos fotógrafos, e isso destacou-a.

Em qualquer pessoa, o talento é a sua força maior, que não pode ser negligenciado. O talento é algo que vem de dentro, não pode ser incutido externamente. “Construir sobre o talento leva as pessoas a despertar a curiosidade e a paixão que trazem dentro de si e não há fonte de energia maior que essa”, refere Valdir Bündchen, pai da modelo.

Frequentemente acontece que há uma tentativa de elevar os pontos fracos e reduzir os fortes. O resultado é a mediania. Cada pessoa tem o seu talento, e esse é o seu combustível.

Laszlo Pulgar psicólogo e pedagogo húngaro, ao contrário do referido anteriormente, entendia que conseguia desenvolver a genialidade em qualquer criança. Casou, teve três filhas e tentou provar a sua teoria com elas, ensinando-as desde cedo a jogar xadrez. Elas de facto tornaram-se boas jogadoras, conseguiram vitórias consideráveis, mas nunca atingiram a excelência. E, com 20 anos, desistiram do projecto do pai. Faltava-lhes a chama do talento. “A disciplina, a técnica e o conhecimento tornam as pessoas melhores em qualquer área, mas nada compensa a falta de talento”.

Talento, aqui, é definido como “uma aptidão natural que possuímos para fazer alguma coisa com uma naturalidade superior relativamente à maior parte das outras pessoas”.


Jacob Pétry refere também o excesso de oportunidades como uma das causas principais do fracasso.

“Ao contrário do que pensamos, o maior responsável pela mediocridade na vida das pessoas e empresas não é a falta de oportunidades, mas o seu excesso. O excesso de oportunidades dissipa as nossas energias e divide os nossos pensamentos em tantos aspectos e em tantas direcções distintas que, ao invés de criarmos um foco seguro para nos fortalecer e servir de guia, tornamo-nos vítimas da dúvida, da insegurança e, consequentemente, da fraqueza”.
Daí a importância de um foco único, de um propósito exclusivo. Isso permite marcar um objectivo a atingir e traçar o caminho.

Entre vários exemplos, é apontado o caso dos Estados Unidos, surpreendidos em 1958 pelos soviéticos com o lançamento do primeiro satélite de história, o Sputnik. Em 1961, Kennedy, ao falar ao Congresso, definiu o que deveria ser o objectivo dos americanos: “antes do fim desta década, levar um homem à lua e fazê-lo regressar em segurança à Terra.” Esta meta implicou o desenvolvimento em larga escala das ciências e da engenharia. O objectivo, como sabemos, foi alcançado a 20 de Julho de 1969, muitos anos após JFK ter sido assassinado (Novembro de 1963).


A Lei da Tripla Convergência é mais um dos “segredos” desvendados neste livro e consiste no ponto em que se cruzam três factores: talento, paixão e dinheiro. “É o cumprimento dessa lei, ou não, no momento de definir o propósito, que fará toda a diferença”.
Talento, como já vimos, é a aptidão natural para fazer alguma coisa com uma naturalidade única. Paixão é algo que gostamos tanto que faríamos sem outra recompensa que não fosse o prazer de fazê-lo. Dinheiro será a consequência da oferta de um serviço no qual se juntem o talento e a paixão, e decorre do sucesso.
A resposta a estas três perguntas é o cerne desta lei:
- qual é o seu talento?
- qual é a sua paixão?
- como irá transformá-lo em dinheiro?



Um outro aspecto que o autor refere é a importância da primeira milha, que tem a ver com o primeiro troço do caminho e com a energia necessária para esse arranque, como acontece com o lançamento dos foguetões. É o primeiro impulso, o arranque.
Tal como um foguetão, “a descolagem da vida exige imensa energia. Primeiro, porque precisamos romper a gravidade que nos rodeia, temos de sair da zona de conforto. Segundo, carregamos todo o peso do talento bruto, muitas vezes irreconhecível aos olhos do mundo. E, mesmo que tenhamos um talento notável e um propósito definido de forma objectiva, há uma série de outras componentes necessárias. Só conseguiremos assimilar essas componentes ao longo do caminho.”


O último “segredo” que vou referir é o poder das convicções. Jacob Pétry dá a seguinte definição: “uma convicção é a certeza obtida por factos ou razões que não deixam dúvida e nem dão lugar a objecção. Essa opinião determinada forma um modelo, um padrão, uma persuasão íntima que passa a fazer parte dos princípios que conduzem as nossas acções. Elas são o piloto automático que dirige as nossas vidas”.
Em poucas palavras, somos o resultado das nossas convicções. Logo, para obter resultados diferentes é necessária uma mudança de convicções. Sem isto, não importam outros aspectos como o esforço, a disciplina ou outras virtudes, uma vez que há uma diferente percepção interior, uma sabotagem interna.


Jacob Pétry realça ainda outros elementos importantes para o sucesso, nomeadamente o paradoxo da inteligência (pessoas simples alcançam mais resultados que muitos sobredotados), os anos de silêncio (ou seja, os anos de preparação antes de alcançar o sucesso), ou a importância do foco, do tempo e o problema do sentido (ou seja, para onde direccionamos a nossa atenção).

É um livro para ter à cabeceira, para folhear com frequência e reler os muitos sublinhados que lá ficaram.



Na mesma linha deste texto, ler: Sucesso: existe uma fórmula mágica?


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Referências
Autor: Jacob Pétry
Editora: Estrela Polar


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